ENTREVISTA COM MAURÍCIO DOUEK
Estou sempre aqui, de segunda a segunda, às 7 horas da manhã, para organizar o culto. Sigo o exemplo de meu pai,
(Maurício Douek (Z”L) bril de 2009
Conte um pouco sobre sua história.
Onde nasceu?
Quando chegou ao Brasil?
Por quais motivos escolheu esse país?
Nasci no Cairo, Egito, onde éramos muito felizes. A maioria de seus habitantes era estrangeira e a comunidade judaica gozava de uma situação muito privilegiada ali. No Cairo havia muitos templos, um ao lado do outro, e costumávamos frequentar um pouco cada um, era uma comunidade muito homogênea e unida, tínhamos uma ligação muito forte uns com os outros. Quando as coisas mudaram no Egito e percebemos que não haveria mais futuro para os judeus ali, pensei com o meu irmão David Douek para qual país deveríamos nos mudar. Visitei o Brasil antes do meu irmão e quando tomei uma "cervejinha" com um amigo que morava na cidade praiana de Santos, logo gostei da hospitalidade e da descontração brasileira e optei por morar aqui.
Sempre frequentou esta Sinagoga? Por quê?
Sim, desde que cheguei ao Brasil em 1960. Nesta época, já havia um grupo sefardita que organiza a Sinagoga inicialmente chamada de Templo Israelita Sefaradi e posteriormente, Templo Israelita do Rito Português. Em 1962, depois de dois anos, meu irmão, David Douek, que também gostava de organizar os serviços religiosos do Templo veio morar aqui. Quando ele chegou, a Sinagoga estava em reformas, encontrava-se quase pronta, mas faltavam ainda cadeiras, então, organizamos um evento na Hebraica para captar recursos e finalizar a Sinagoga. O Templo, localizado à Rua da Abolição — como é sempre lembrado até os dias de hoje — vivia lotado e recebia pessoas oriundas principalmente da Turquia, Egito e Grécia. Sempre me senti muito ligado ao ritual sefaradista, tal qual meu pai e meu irmão.
O Templo tem passado por muitas mudanças. Quais foram as mais significativas?
A mudança de local foi, com certeza, a mais significativa. A Rua da Abolição, onde se localizava o Templo, tornou-se uma região muito insegura e complicada. Cada vez mais as pessoas se afastaram da Sinagoga pela distância e falta de segurança. O Templo não ficava mais cheio como antigamente. Ainda hoje, mesmo com a mudança para a região dos Jardins, durante as Grandes Festas e comemorações, a Sinagoga ainda fica bastante cheia, mas no dia-a-dia, quando desejamos ver as pessoas durante as rezas, elas não estão presentes. Acredito que agora, quando a nova sede à Rua Cravinhos estiver pronta, voltaremos a ter uma maior frequência.
Como diretor de Culto, qual a sua função na sinagoga?
O diretor de Culto é o representante do Templo para assuntos relativos às rezas. Juntamente como Rabino Garzon, sou eu que preparo as rezas para que tudo corra da melhor maneira possível. É responsabilidade minha que todo o ritual dê certo. Estou sempre aqui, de segunda a segunda, às 7 horas da manhã, para organizar o culto. Sigo o exemplo de meu pai, que acordava todos os dias às 5 horas da manhã para rezar e também do meu irmão, que sempre foi dedicado. Como Diretor de Culto, apenas sigo os valores que aprendi com minha família em casa.
Quais são os desafios do Templo Ohel Yaacov para o futuro?
Gostaria de ver as pessoas rezando na Sinagoga sempre e não apenas durante as Grandes Festas ou comemorações. Desejamos encontrar nossos associados e amigos participando aqui todos os dias. O nosso desafio é este: chamar as pessoas para frequentar diariamente. Acredito também que a comunidade judaica hoje está muito segmentada e se fosse mais unida, os jovens certamente estariam mais ligados também. Nosso desafio é trazer os jovens, amigos e associados cada vez mais para o Templo Israelita Brasileiro Ohel Yaacov. E aproveito para desejar a todos nossos associados e seus familiares um Pessach Sameach com muita saúde, paz e alegria!
Editado e transcrito por Sami Douek em 4 de outubro de 2023