Alfredo

HISTÓRIA DA FAMÍLIA DOUEK SEGUNDA PARTE

Edição, segunda parte

Minha mãe, ao se juntar à família Douek, acabou cuidando de todos os irmãos do meu pai, incluindo meu tio Émile, que a chamava de Mami. Era ela quem ia às reuniões da escola, quem o levava ao médico quando necessário, quem cuidava de suas roupas, afinal, ele tinha apenas 3 anos. Todos os problemas familiares foram resolvidos pelos meus pais, mesmo depois que meus tios se casaram e tiveram filhos. Nenhuma decisão foi tomada sem antes consultar meu pai, mesmo que meu avô Nono Ibrahim estivesse preocupado. Meu avô costumava dizer que meu pai sempre tinha a melhor solução para qualquer impasse. No Shabat e no Hagim, a grande família se reunia para almoçar e jantar, todos os primos brincavam juntos, apesar da diferença de idade.

Meu tio Joseph foi o primeiro da família a deixar o Egito para Estrasburgo (França) para estudar Farmácia e depois foi para Genebra (Suíça). Meu tio Emile também foi para Genebra para estudar farmácia. Em 1956, nem todos os judeus eram bem vistos no Egito. Tudo começou em 1948, quando o rei Farouk atacou Israel e foi derrotado. Com a nacionalização do Canal de Suez no mesmo ano, o Egito foi atacado pela Inglaterra, França e Israel para recuperar o Canal de Suez. Foi então que o rabino-chefe do Egito, Haim Nahum Efendi, se encontrou com o presidente Gamal Abdel Nasser para pedir que ele estabelecesse um prazo para todos os judeus deixarem o país. Em um sermão proferido na grande Sinagoga Shaar Hashamaim, mais conhecida como Ismailia, na Rua Adly, ele falou sobre o êxodo do povo judeu do Egito, sugerindo que havia chegado o momento de fazer as malas e deixar o país.

A família Douek escolheu acima de tudo o Brasil, um país que aceitava imigração. Em 1960, meus tios Maurice e Rafla e suas famílias chegaram ao Brasil como apátridas, porque o Egito não concedia nacionalidade egípcia aos judeus nascidos no país. Lembro-me que quando recebi a nacionalidade egípcia, aos 16 anos, tive que assinar automaticamente uma carta de renúncia.

Meu pai recebeu uma oferta generosa de uma posição para uma grande indústria têxtil sediada no Cairo, onde foi nomeado gerente de vendas por um período de 2 anos até que esta organização fosse entregue ao governo egípcio, por decreto de nacionalização. Meu pai providenciou a obtenção da cidadania italiana da comuna de Livorno, uma cidade outrora povoada por uma considerável comunidade judaica no comércio. Obtendo passaportes para toda a família Douek, entregues a toda a família no Brasil e na Suíça. Em 1962, meus pais e irmãos, acompanhados por meu tio Joshua e sua família e meu avô Ibrahim, deixaram o Egito para o Brasil. Uma lembrança que permanece muito clara para mim é quando nossos passaportes foram carimbados com as palavras “sair sem retorno”.

Do Egito, meu pai e meu tio Joshua trouxeram 2 Sefarim (Sefer Torah) quando saíram do Cairo para Paris Orly, finalmente retirados do Egito, os dois exemplares já centenários, foram oferecidos à sinagoga sefardita de São Paulo (Rua da Abolição, depois denominada Sinagoga Ohel Yaacov), sinagoga que ainda frequentamos, reunida em novo endereço em 2012, onde meus filhos cresceram e hoje frequentada pelos meus netos.

Em 1974, casei-me com Mary Toledano e tivemos dois filhos, David e Natalie. David é casado com Nathalie Mindlin e tem 3 filhos: Ariel, Rafael e Moshe.

De um trecho escrito pelo meu irmão Alfred em 2017

Sami Douek, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Nota: Foto do cabeçalho, na principal sinagoga do Cairo, Shar Hashamayim, na Rua Adly, durante seu Bar Mitzvah

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